Uma pessoa que está na zona de conforto, certamente, se sente bem, com o desejo que assim continue, porém se essa pessoa for advogada, ela corre grandes riscos de ser tirada dessa zona de conforto e de uma forma bem drástica.  

Isso decorre pelo simples fato de no Brasil existir mais de 1,3 milhões de advogados inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil, fora os que não conseguiram passar na prova, o que representa em média que existe um advogado para cada 164 brasileiros. Essa proporção dobrou desde 2008 e é a maior concentração de advogados do mundo. Além disso, a Base Nacional de Dados do Poder Judiciário, mantida pelo Conselho Nacional de Justiça, contabilizou 80.129.206 processos em tramitação nos tribunais e varas do Brasil no dia 31 de março de 2022, ou seja, o número de processos aumenta exponencialmente, diante de inúmeros litígios sociais e econômicos, principalmente, após uma pandemia. 

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Em suma, temos uma quantidade exorbitante de advogados no Brasil em conjunto com uma quantidade gigantesca de processos, o que me permite concluir que, se você advogado não se inovar e se reinventar, certamente, não captará novos clientes, não conterá lucro e ainda terá um custo alto operacional. 

  Se ainda não entendeu o que alho tem a ver com bugalhos, preste atenção nos motivos, pelos quais você deve sair da zona de conforto e se inovar para permanecer na advocacia e ainda ganhando o pão nosso de cada dia.  

  Ao observarmos que as demandas jurídicas, extra ou judiciais, crescem de forma desproporcional, podemos nós animar com eventual aumento de contratos fechados, em contrapartida, os litigantes não estão disponíveis e propensos em pagar pelos serviços jurídicos, visto que entendem que se trata de um serviço muito caro. 

  A maior parte dos advogados cobram por hora trabalhada, o que, em regra, seria o justo para o cliente, uma vez que só será cobrado pelo tempo de dedicação ao caso e não por estimativa. Contudo, essa visão do justo mudou, pois começou a se notar que essa forma de cobrança não era assim tão vantajosa ao cliente e nem ao próprio escritório de advocacia.   

Constatou-se que a cobrança por hora ocasionava problemas para os escritórios de advocacia como a diminuição da colegialidade, traz prejuízo ao advogado eficiente e produtivo, não incentiva o advogado a usar a tecnologia, falha em desencorajar uma segmentação excessiva, e desnecessária no trabalho, falha em promover uma análise risco/benefício, aumento de competitividade entre os advogados. Em contrapartida, os problemas gerados para os clientes são: os custos com os serviços ficam imprevisível, desestimula comunicação entre advogado e cliente, o cliente corre o risco de pagar pela ineficiente do advogado, pelo treinamento de pessoal dos escritórios, pela troca de advogados envolvidos no caso ou pelo preenchimento de planilhas de cobrança, sofrem com contas sumarizadas que reportam tarefas mecânicas, não o progresso de valor.  

Diante dos diversos pontos negativos, fica difícil achar um positivo. A pesquisa mencionada acima, permite concluirmos que a falta de previsibilidade do custo final com o advogado faz com que o cliente cada vez mais evite contratar um advogado, buscando, assim, meios alternativos de conflito ou utilizando dos juizados especiais, os quais não exigem a presença de um advogado para causas até vinte salários-mínimos. 

  Ao analisar os fatos e apontamentos acima, conclui-se que o advogado que não mudar a forma de cobrança, será engolido pelo mercado, já que as pessoas no mundo e no Brasil estão sofrendo com as crises econômicas e sociais, consequentemente, perdendo suas rendas, ou pior, não tendo dinheiro suficiente para gastar com um advogado diante de uma inflação tão alta.  

 Isso, então, força o advogado a sair da sua zona de conforto e do seu modelo de negócio, para se aprofundar no mercado atrás de inovações jurídicas, como a utilização da tecnologia no mundo jurídico.  

  A proposta é buscar atender à exigência do mercado, que nada mais é do que oferecer o mesmo serviço jurídico de qualidade por um valor menor, mas para que isso ocorra se faz necessário analisar o que gera um alto custo para os escritórios de advocacia e mudar isso. 

Uma das ideias proposta como solução para o advogado4 é a aplicação da tecnologia no seu dia a dia, por mais difícil que isso possa ser, temos que concordar que o mundo digital já facilitou muito a vida do advogado, por exemplo, os processos físicos mostram uma média de 144,19 dias no tempo cartorial, os processos judiciais eletrônicos apresentam uma média de 97,36 dias, o que indica redução de 48% do tempo no trâmite pelo PJe.  A partir da análise quantitativa dos dados, o PJe mostrou ganhos no tempo que leva para que os juízes profiram decisões em processos conclusos.  

Isto é, não precisamos mais gastar com o transporte de deslocamento do escritório até o fórum para analisar qual foi a publicação e nem para tirar fotocopia dos autos, atualmente, está tudo prontinho na tela do computador, só nisso, o advogado economizou tempo, dinheiro e fez o processo tramitar mais rápido.  

  Ademais, se uma simples digitalização já trouxe ganhos consideráveis para a advocacia, qual o motivo de não buscarmos mais tecnologia na gestão e processos do escritório? 

  O único motivo é medo de sairmos do nosso conforto, medo de sair do que sabemos que dá certo, mas que futuramente será a causa do desconforto. Infelizmente, boa parte dos serviços jurídicos ainda são feitos de forma artesanal por escritórios de advocacia, tendo advogados realizando tarefas que não se exige qualificação, o que consequentemente gera mais gasto para o cliente.  

  Em face disso, a tecnologia busca agregar dentro de um escritório de advocacia maior eficiência, redução de tempo de trabalho, melhor controle do tempo X trabalho e reduzindo custos para o escritório e para o cliente.  

 Existe no mercado sistemas informatizados, que vão além de editar documentos e organizar arquivos. Os escritórios terão que investir em automatizar certos serviços ou fluxo de trabalho em uma empresa, por exemplo, automação de documentos, preencher alguns dados em formulários on-line e fornecer uma minuta de contrato padrão. Essa automação beneficia o advogado, que já economiza o tempo gasto com coisas sem complexibilidade, permitindo que faça contratação de paralegais ou pessoas sem conhecimento em direito para realizarem atividades administrativas, economizando muito com isso, o que consequentemente, permite que o advogado foque nas atividades que demandam conhecimento jurídico, abrindo agenda para dar atenção aos clientes e participar até mais dos negócios dos clientes, bem como ganha tempo para angariar mais clientes.  

 Nota-se que a utilização de tecnologia no serviço jurídico, permite a divisão de tarefas entre o corpo jurídico (advogados) e corpo administrativo (paralegais e não advogados), o que permite a contratação do escritório por um custo menor, já que ocorre a diminuição de tempo que um advogado irá gastar com cada demanda, visto que com o uso de tecnologia e delegação de tarefas que não se exige qualificação, os escritórios poderão chegar numa prestação de serviço rápido, eficaz e de qualidade, com menos tempo gasto do advogado, já que o corpo administrativo poderá realizar tarefas, por um custo menor da hora do advogado, e o advogado poderá focar em mais demandas que exijam sua atenção. 

 Portanto, ao abrirmos a mente e aceitar os benefícios que a tecnologia pode trazer à rotina do escritório de advocacia, constata que a aquisição de softwares aptos de otimizar o tempo em realizar pesquisas, mapear posicionamento de determinada turma, consequentemente, conduz aos elementos capazes de afeiçoar a sua tese e aperfeiçoar a sua sustentação oral, num tempo menor de trabalho e muito mais eficiente do que a forma manual que é feita hoje em dia. Fato este que gerará diminuição de custo para o escritório e diminuição de gasto para o cliente. 

A ideia desse texto é tirar todos os advogados da zona de conforto e lembra-los que a cada dia temos mais advogados e mais processos, com uma população com menor poder aquisitivo, por isso reduzir o custo é uma obrigação, para que assim possamos atender maior número de clientes e aumentar o lucro do escritório, utilizando-se da tecnologia, terceirização de serviços menos complexos e de uma boa gestão de escritório, para que seja realizado o serviço jurídico de forma mais rápida, eficiente e por um menor custo, focando em dar atenção a dor do cliente e fidelizando o cliente. 

BIBLIOGRAFIA 

AMERICAN BAR ASOCIATION. ABA COMISSION ON BILLABLE HOURS REPORT. Washington: ABA, 2002.  

FEIGELSON, Bruno, BECKER, Daniel; RAVAGNANI, O Advogado do Amanhã – Estudos em homenagem ao Professor Richard Susskind. São Paulo: Thomson Reuters Brasil,2019. 

Bruna Kusumoto 

Advogada, pós-graduada em direito civil e processo civil pela EPD, pós-graduada em direito sistêmico pela Innovare, mestre em processo civil pela PUC-SP, professora universitária, proprietária do escritório Kusumoto advogados, membro do IBDP, membro da ABEP e membro da Comissão de Processo Civil de São Paulo. 

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